Thursday, August 24, 2006

OSM, a Orquestra Sinfônica de Megalópolis

O que mais me orgulha nestes nossos governantes é a sensibilidade em perceber exatamente o que a cidade, o estado e seu povo estão precisando... e fazer o contrário.
A prefeitura e a OSPA acabam de divulgar com grande entusiasmo que finalmente encontraram o lugar ideal para o novo teatro da OSPA, ao lado da Câmara de Vereadores. Câmara onde, por sinal, mora nossa última esperança de bom senso, pois os vereadores terão de aprovar o projeto, sujeito também às licenças ambientais de praxe, já que a área faz parte de um parque.
Bom, primeiro a boa notícia: não vai mais se concretizar a maracutaia planejada num shopping da cidade, no qual o governo pretendia investir o nosso dinheiro num grande estacionamento, com um teatro anexo que após 25 anos ficaria para os donos do shopping.
Mas a realidade seguirá bastante dura: a obra vai custar uns 20 milhões, quase o mesmo que o maravilhoso "maior complexo cultural da América Latina", o quase-concluído, prometido para 20 de setembro próximo, principal realização do governo Rigotto na área, anexo ao Theatro São Pedro, (ufa!) Muuultipalcoooo! Como o prédio da Fundação Iberê Camargo se encaminha para conclusão também, essa meia dúzia de grandes patrocinadores da cultura no Estado corria o risco de por alguns instantes não saber bem onde investir o seu dinheiro e principalmente o nosso (pois se trata de recursos de isenção fiscal do Estado e da União). Que perigo! Era capaz até de investirem na escumalha, aqueles projetinhos de R$ 20 mil, de gente pouco ambiciosa, que nem dão notícia na televisão (só na TVE, no máximo).
Então, pimba, precisávamos com urgência de um novo MEGA projeto, um troço supimpa mesmo, à altura da megalomania dos nossos governantes. Para quem, não sendo ainda suficiente termos aqui a GM (que precisou investir US$ 1 bilhão de dólares para gerar 5 mil empregos) e o maior complexo cultural da América Latina, precisamos ter também "o sétimo teatro exclusivamente sinfônico do mundo". A quinhentos metros um do outro! (Temos também o sambódromo, que pelo menos irá promover o desenvolvimento de uma área da cidade até então quase abandonada).
Enfim, uma obra onde deixar eternizado meu nome, numa placa de bronze logo na entrada: "benfeitor dos gaúchos". Já os "captadores" dessa grana toda, que mordem até uns 20% só para fazer o dinheiro trocar de mão, são modestos (e espertos) o bastante para renunciar ao seu nome na placa.
A população de Porto Alegre e do Estado aumentou bastante. O número de teatros também aumentou na capital, mas sabe-se que há muitos fechados no interior. Viraram igrejas quando não vieram abaixo. A periferia da capital desconhece o que seja isto, e a região metropolitana tem ilhas de exceção. Não há dados exatos a respeito, e os governos seguem desconhecendo o potencial impacto econômico (cultural nem se fala) que pode representar um empreendimento deste tipo num local onde ele realmente é necessário.
É fácil constatar que o poder público tem imensas dificuldades de manter os equipamentos que já existem em boas condições de funcionamento. A sociedade precisa saber quantas pessoas em média assistem à OSPA em seu teatro atual, e quantas assistem à orquestra do São Pedro. Quantas pessoas estão indo aos teatros públicos, ao Anfiteatro Por-do-Sol, quantos dias por ano eles têm alguma programação, e principalmente em que condições eles estão. (Sabemos, por exemplo, por informação oficial da prefeitura, que o Araújo Vianna está fechado, "por falta de verbas" para reformá-lo). Precisamos saber por que o "maior complexo cultural da América Latina" não pode abrigar duas orquestras (uma sinfônica e uma "de Câmara").

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