Sunday, May 06, 2007

ninguem mexe no meu queijo

Agora é sério. Porto Alegre vai ter aeromóvel. Talvez até tenha dois!
Sábia decisão, com vinte anos de atraso, motivada pelos recentes e apocalípticos relatórios sobre o futuro do nosso planeta? Como sempre, me entusiasmei ao ler as manchetes, para me decepcionar depois de ler as matérias. Fiquei sabendo o seguinte:
Que a empresa Aeromóvel Brasil assinou carta de intenções com a Trensurb, para buscar recursos para a análise de viabilidade de implantação de uma linha de 900 m de extensão (nossa!) entre a Estação Aeroporto do metrô mais lento do mundo e o Aeroporto Internacional Salgado Filho. Trajeto que, vamos combinar, pode ser cumprido com uma esteira rolante, como no Aeroporto do Rio.
Que outro projeto, para uma linha de 2,27km (aaah!), será viabilizado através de uma parceria entre a PUC e a UFRGS, envolvendo 58 pesquisadores, 40 bolsistas e 10 laboratórios destas Universidades. Esta obra já conta o suporte de R$ 3,4 milhões concedidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Estes recursos iniciais bancarão um estudo para aplicação do veículo e da via, a construção de (mais) um protótipo em escala real, com 150 m e o aperfeiçoamento da propulsão a ar, entre outros itens preparatórios. (Todos os testes do Aeromóvel já construído em Porto Alegre pela bagatela de US$ 6 milhões, devem ter ficado desatualizados, pois foram feitos há mais de 20 anos...)
Como os recursos do MCT e da UFRGS(MEC) são escassos, é natural que o governo priorize uma obra que vai trazer benefícios para a maioria da população da cidade, certo? Errado. A linha deverá ligar o Campus Central, o Parque Esportivo e o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica, beneficiando quase que exclusivamente seus alunos e funcionários. Bem, talvez a PUC nem cobre passagem dos alunos, afinal já ganham tanto pelo estacionamento
Para quem não sabe, o Aeromóvel está em uso desde 1989, numa linha de 3,5 quilômetros, num parque de Jacarta (Indonésia), onde há centros de convenção, prédios culturais e uma universidade (será pública ou privada?). Até hoje é a única linha em operação comercial no mundo, onde já transportou, sem falhas, mais de 14 milhões de passageiros.

Em Porto Alegre, como sabemos, qualquer alternativa ao ônibus sofre a pressão implacável do oligopólio. Por isso nossa cidade, com 72 km de orla lacustre navegável, despreza até hoje esta via, usada apenas para "passeios turísticos". Por isso Porto Alegre só tem ciclovias aos domingos e feriados. Por isso, é preciso domesticar também o Aeromóvel. Mas não precisava privatizá-lo.
Embora o Aeromóvel seja um meio de transporte infinitamente menos poluente, foi o projeto Portais da Cidade que a prefeitura escolheu como a panacéia para diminuir a poluição e o congestionamento no centro da cidade, pois não mexe no queijo da ATP. Assim como a administração anterior escolheu colocar corredores de ônibus (no lugar de ciclovias por exemplo) dentro da terceira perimetral.

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